O grupo japonês Kirin anunciou ontem a compra de 50,45% da cervejaria Schincariol, a segunda maior do mercado brasileiro, por R$ 3,95 bilhões, em dinheiro. Essa participação pertencia à Aleadri-Schinni Participações e Representações, holding do irmãos Adriano e Alexandre Schincariol.
Os japoneses eram considerados azarões pelos executivos do setor que acompanhavam as negociações. O grupo sul-africano SAB Miller, que fez parceria com o inglês Diageo para avaliar os números da empresa brasileira, havia desistido da disputa, mas a holandesa Heineken, considerada a favorita na briga, ainda estava no páreo (veja noticia anterior, abaixo).
Mesmo com o acordo fechado com os sócios majoritários, a Kirin pode vir a enfrentar problemas com os outros sócios - os primos Gilberto e José Augusto Schincariol, que detêm 49,55% das ações e se opuseram às condições da venda. Ontem mesmo, o próprio Adriano tomou a iniciativa de convocar um reunião de emergência com o conselho da empresa para comunicar as suas razões para sair do negócio.
A ala da família que não concorda com a venda argumenta que teria direito de preferência para comprar a parcela dos primos e que teriam sido surpreendida pelo anúncio da venda. Diante disso, estaria disposta a questionar juridicamente a operação. Nos últimos tempos, segundo pessoas próximas, Gilberto movimentou-se em busca de recursos para exercer o direito de preferência e comprar a participação dos primos. Procurou fundos de investimento e, na semana passada, tentou uma aproximação com o BNDES, que não deu certo.
Com 13 fábricas e líder de participação em vendas no Nordeste, uma das regiões que mais cresce no Brasil, a Schincariol faturou R$ 5,7 bilhões em 2010, o que significou um aumento de 11,8% em relação ao ano anterior. O Brasil, aliás, é hoje o terceiro maior mercado global, atrás da China e dos Estados Unidos.
É também um dos mercados mais promissores. Nos EUA, Europa e Japão, o consumo de cerveja cai. Os países emergentes são a bola da vez para a expansão do setor. O Brasil fabricou mais de 12 bilhões de litros no ano passado, um volume recorde. Apesar disso, o consumo per capita é baixo, de 48 litros por ano. Os líderes de consumo, os alemães bebem, 110 litros per capita por ano. Com a aquisição, a Kirin - que também participou há um ano da sondagem de compra da cervejaria Kaiser, que acabou nas mãos da Heineken - entra de vez nesse mercado.
Segundo Marco Gonçalves, responsável pela área de fusões e aquisições do BTG Pactual, que assessorou a Schincariol na negociação da venda, o valor do negócio levou em conta exatamente esse potencial de expansão do mercado de bebidas no País. Por isso, o preço pago pelas ações da Aleadri superou a razão de uma vez o faturamento, como é praxe nesse tipo de negociação.
Um dos itens da negociação incluiu uma cláusula de permanência para os principais executivos de 36 meses - incluindo o presidente da companhia, Adriano Schincariol. A Kirin também se comprometeu a manter as marcas da Schincariol - Nova Schin, Devassa Bem Loura, Glacial, Baden Baden e Eisenbahn.
'No fim das contas, além da permanência dos executivos, fez diferença também a perpetuidade das marcas do grupo', disse Gonçalves. 'Em termos de valor, houve propostas parecidas.' Segundo ele, os japoneses assumem também uma dívida de cerca de R$ 1 bilhão - o mercado estima a dívida total da empresa em mais de R$ 2 bilhões.
Mercado
Hoje, a Kirin ocupa a sexta posição no ranking global das grandes cervejarias. Consultadas, as concorrentes da empresa no Brasil dizem que os japoneses podem enfrentar sérios problemas de adaptação tanto cultural, quanto operacional. Os processos produtivos da Kirin no Japão são muito diferentes dos hábitos de consumidores brasileiros. A cerveja especial premium Ichiban, campeã de vendas no Japão, por exemplo, usa arroz na composição. Ela é produto de uma mistura malte de cevada, lúpulo, levedura, amido de milho e arroz.
Heineken pretende comprar Schincariol
sex, 13/05/2011 - 12:09
SÃO PAULO - Terceira maior cervejaria do mundo em volume, a Heineken estuda comprar a Schincariol. A informação foi publicada pela rede de notícias Bloomberg. A agência divulgou que a Heineken parceira da Kaiser no Brasil está analisando as informações contábeis da cervejaria brasileira que em 2008 comprou a Eisenbahn. Segundo a Bloomberg, a Schincariol estaria à venda por aproximadamente 2 bilhões de dólares e, na última quinta-feira, a Heineken conseguiu uma novo empréstimo de 2 bilhões de euros que pode ser utilizado também em aquisições.
O negócio pode ser concretizado entre o final deste mês e o início de junho. Segundo um executivo envolvido nas negociações, as duas empresas discutem os detalhes finais da proposta, incluindo pontos como a participação dos atuais sócios da Schin na tomada de decisões da companhia após a concretização do negócio.
Melhora na rede de distribuição
Sob o comando dos irmãos Adriano e Alexandre Schincariol, que detêm 51% das ações da empresa (os outros 49% estão nas mãos dos primos Gilberto Schincariol Junior e José Augusto Schincariol), a Schin vem sendo disputada pela holandesa Heineken, a sul-africana SABMiller e a dinamarquesa Carlsberg. De acordo com fontes de mercado, a proposta final da Heineken foi de US$ 2 bilhões, contra o US$ 1,8 bilhão oferecido pela SABMiller.
Concretizada, a transação levaria a Heineken – que hoje tem menos de 10% de participação no mercado brasileiro - a saltar da quarta posição para o segundo lugar no ranking das maiores fabricantes no País. “Para a Heineken, a aquisição da Schincariol representa uma excelente oportunidade de equacionar sua rede de distribuição, que é muito fraca em restaurantes, bares e botequins”, diz o executivo.
Ao fechar a aquisição, a holandesa leva ainda um parque fabril que é considerado um dos mais modernos do Brasil no mercado de cervejas. Com oito fábricas antigas, “do tempo da Kaiser”, diz o executivo, a Heineken tem muito a ganhar ao somar as 14 plantas da Schin, que, além de mais novas, são bem localizadas. “A localização das fábricas da Heineken não está de acordo com a demanda do mercado. Plantas que produzem garrafas estão próximas de mercados consumidores de latas e vice-versa”, diz.